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(Ou "História daquela vez em que finalmente fiz alguma coisa pela vida, convidei um indivíduo para o lanche e depois disso perdi a coragem") Voltei a Coimbra este fim-de-semana, BFF num braço, ex-paixão platónica de anos no outro. Encontrei o meu doutor de praxe, que disse que estava velho e queria era um chá e uma bolacha de canela, eu discordei principalmente por causa da canela; a minha caloira cartolou, a minha bisneta grelou e o meu pseudo jurou a pés juntos que tinha uma tutora que era exatamente igual a mim. "Eu esforço-me e queria mesmo que ela gostasse de mim, mas não gosta!", disse em tom desesperado, logo após ter dito que eu parecia muito adulta. Sorri e disse para não se preocupar, que pelo menos eu gostava dele. Não existiam unicórnios. Há 4 dias atrás corri os meus primeiros 5km num acto de loucura, ao estilo "se os especialistas velhotes conseguem, eu também consigo". Consegui, mas eles ganharam claramente e com facilidade. Cheia de endorfinas (ou então foi o ácido láctico a chegar-me ao cérebro, não sei), reuni a coragem que tinha e mandei uma mensagem tão simples e com tanto filtro que não podia ser eu. Convidei-o para lanchar, porque pelos vistos as pessoas normais fazem disso e não quer dizer nada (é tudo na minha cabeça, mas ele não percebeu), recebi uma resposta afirmativa e depois andei nos píncaros uns tempos - mais ou menos o equivalente ao latejar do quadricipete, que entretanto melhorou. Em Coimbra lembrei-me de tudo, aos anos e no ano passado, da rejeição adulta pela qual optei e pela ausência de timing. Indecisa acerca de como me sentir acerca de tudo isto, passei a manhã de hoje a pensar o quanto tinha saudades dele; passei a tarde sentada quase em silêncio com ele ao lado sem ter nada decente para lhe dizer. Sou uma existência pedante.
Tenho um vício ruim de bipolaridade na socialização que varia entre ser super querida e preocupada e um bloco de gelo, indiferença, celeridade e impaciência. Às vezes sou vil ao ponto de promover picardia e rejubilar pela impaciência que causei nos outros.
Ah e tal porque ele diz que não é elitista, ultraje! Porque aquilo que ele ouve é muito conhecido e, pasma!, "qualquer pessoa com o mínimo interesse na cena musical conhece *inserir banda da cena alternativa aqui*". Porque apesar de enquadrar naquilo que o próprio chama cena alternativa e achar que a música dele é melhor que a dos restantes, não é elitismo - a minha definição das massas é que está errada. Porque a minha geração ouve Antena 3 e VodafoneFM e toda a gente sabe que Moullinex é uma banda portuguesa e não só uma marca de batedeiras elétricas.
Mas, coração, todo o teu argumento é elitista - o teu argumento é per se a definição de elitismo. Deves conviver com umas massas muito bem seleccionadas - apresenta-me os teus amigos, parecem gente porreira.
Dito isto, vou só ali ouvir o novo album dos "The Last Shadow Puppets" - super conhecido, mainstream e que passa nas rádios super conhecidas que se calhar até ouves. Talvez não seja elitista musical nos teus critérios.
Tem dias. Tem bocadinhos. Tem momentos. Tem gestos e suspiros, e por momentos fica ali, perdida. Finge que não, finge que sim. Enrola um pouco o tempo, adia a resposta, estende a pergunta. Mais uns segundos. Palpita um pouco, panica, aceita. Lança um olhar lânguido enquanto ele não vê. Percorre-o todo, decora-lhe o sorriso. Decora-lhe as feições. Passa as pontas dos dedos na mão dele, no braço. Quer continuar o trajecto, enrolar-se nos braços dele. Viver no peito dele. Ficar encaixada nas cavidades cardíacas dele e ser bombeada através dele junto com os componentes sanguíneos. Conhecê-lo com tanto detalhe quanto um glóbulo vermelho - que ridículo, quer ser um eritrócito a percorrê-lo. Quer ser linfa e beijar-lhe as células.
Desiste da ideia - não quer morrer presa no baço dele. Separarem-se porque ele se cortou numa folha de papel.
Há homens que calcorreiam os caminhos como se a corrente os levasse - e como se navegassem ao sabor do vento e sem medo do destino que os espera. Levam os outros no embalo da incerteza e na calma de quem nada teme - provavelmente é uma concepção errada, todos temos sombra algures. A profundidade e extensão desta é que difere proporcionalmente à introspecção, nunca existem elogios suficientes que ofereçam a certeza que é elogio e não cortesia. Porque se a reacção a toda a acção for extraordinária, o padrão não é a normalidade - é antes o extraordinário, e ser normal não é mais que um dissabor.
São melhores seres humanos do que eu - reúnem em si o conjunto da beleza interior e exterior e levam a vida sem medo. «Como te sentes acerca dele?», invariavelmente cheia de temor quanto ao sentimento em bruto.
(Podia perfeitamente ser uma das músicas da minha vida...)
I was staring at the sky, just looking for a star
To pray on, or wish on, or something like that
I was having a sweet fix of a daydream of a boy
Whose reality I knew, was too hopeless to be had
But then the dove of hope began its downward slope
And I believed for a moment that my chances
Were approaching to be grand
But as it came down near, so did a weary tear
I thought it was a bird, but it was just a paper bag
Hunger hurts, and I want him so bad, oh it kills
'cause I know I'm a mess he don't wanna clean up
I got to fold 'cause these hands are too shaky to hold
Hunger hurts, but starving works, when it costs too much to love
And I went crazy again today, looking for a strand to climb
Looking for a little hope
Baby said he couldn't stay, wouldn't put his lips to mine,
He fail in kisses, I failed to cope
I said, "Honey, I don't feel so good, don't feel justified
Come on put a little love here in my void.'
He said, "It's all in your head,"
And I said, "So's everything," but he didn't get it
I thought he was a man but he was just a little boy
Ao fim de quase um quarto de século de existência, de objectivos a cumprir e de sonhos a aspirar, fui apanhada pela inquietação emocional da não existência. Cansado do processo de negação, o meu subconsciente cansou-se de ser fofinho e trocou a estratégia da passividade pela de "deixa-me mostrar-te ativamente através de sonhos o quão carente estás". Enlacemos as mãos, dizem as sonhos e a divinação irrefletidamente.
Não faz mal, diz quem me conhece, diz o histórico deste blog já habituado ao rollercoster emocional e às crises existenciais. Estás a apressar-te, a ser negativa e a sobrevalorizar, sobreracionalizar e sobre- essas coisas todas. É bem verdade e não o nego. É pessimismo. É adivinhação com uma fidedignidade equivalente à borra de café.
Então e o astigmatismo emocional?, fica a questão. Essa é fácil, esse é só o dia-a-dia. Devo necessitar de correção mental na leitura de comportamento humano, tudo se torna embaçado ao final de um bocadinho.
De certeza que isto passa quando mudar-me para Cirurgia.
(Que é como quem diz, tinha dito que não voltava cá, e depois aconteceu)
Olhar para mim não pode ser um reflexo tão azul, mas sustenho o olhar, afogada em azul - é só azul, não é uma leitura sobre o número de segundos que prendo aquela atenção em mim, muito menos uma tentativa de perceber a alma por trás das safiras que me roubam a atenção. Não são janelas nem distracções, é só uma pessoa, ultrapassa o "dás-me cenas" que ecoa como um zumbido no ouvido interno.
Ele olha para mim e eu desarmo um pouco, quando não me sinto um ouriço redondo e espinhoso. Ele caminha ao meu lado, perto, encosta em mim, eu encosto nele, mas não é mais que o deambular de dois indivíduos desinteressados. Não há nada para ler, só tenho bagagem e uma tristeza existencial que às vezes se apodera de mim enquanto tempero a salada com vinagre e sal.
A minha leitura está errada, de certeza que sou eu que encosto nele contra a vontade do espécime, por isso é que caminha ao meu lado tão junto, o meu braço quase enrolado no dele. E aquela expressão divertida e confusa, aquele elevar do sobrolho e o quase sorriso também não são meus, são do mundo e flutuam para quem os interceptar. Eu apenas estou carente.
Foste tu, não, não fui, e o ultraje não é pela acusação mas antes pela percepção, esta legítima, que não prendi a atenção dele tempo o suficiente para me reconhecer os actos. Mesmo que o meu nome soe familiar na voz dele, e que lhe diga entre dentes aquilo que não diria indiscriminadamente. As despedidas com beijinhos são comuns e não é o meu o único rosto que encosta na tua barba macia, e mesmo o "Desculpa" não é mais que cortesia.
Trago comigo apenas bagagem emocional. Estragaram-me o jogo, não consigo ler sinais - só vejo coisas que secretamente sei que não estão lá.
(e pelos vistos, o icónico post 600 - podia ser o 666 ou o 333, eu nem costuma dar atenção a essas coisas)
Se me perguntarem o que aconteceu entre o fim de Junho e o presente dia de Novembro, seria por demais fácil de sintetizar. Estudar, estudar, estudar, fazer o exame, e depois disso tentar reactivar a vida - ou encontrar algo ficcional para me entreter até as coisas voltarem a tornar-se divertidas.
Foi o fim de um ciclo de 6 anos de faculdade, e tudo o que resta são amarrar as últimas pontas. Escolher sítio para o ano comum. Quem sabe começar um novo blog - provavelmente não. Possivelmente mudar-me para uma cidade novamente. Fazer uma nova coleção dos meus internos favoritos. Deixar-me de platonicismos - ou então escrever um livro, o que acontecer primeiro.
O encerramento definitivo de uma era que passou iniciou-se na semana passada, no alinhamento astral e nas piadas cósmicas do universo. No reconhecimento que já passou um ano desde que terminei a saga de cirurgia. Reencontrei o meu IAC. Ou melhor, ele encontrou-me. Ou melhor, ele não é meu. Ou pelo menos não sabe que é meu.
Ele chegou, morno e castanho, parou e tocou no meu braço. Primeiro os segundos de não reconhecimento, depois o reconhecimento meu do ridículo. Uma sucessão de palavras ridículas de minha parte. "Já vos tinha visto, mas ainda não tinha vindo falar convosco". Espero que não nos tenhas visto naquela parte do convívio onde dissemos o teu nome e recordamo-nos das tuas virtudes. Eu apertei-lhe a mão (ele apertou-me a mão? ainda não consegui perceber se fui eu que desperdicei a oportunidade ou se ela nunca existiu). Continuam mãos grandes e quentes. Ele continua impecável, num cardigan demasiado fino para o noite fria que estava, azul. Como vai a vida, como correu o exame, se precisarem de alguma coisa, apitem. Puxou o meu casaco para ver o autocolante da tuna. "Estão com bom aspecto". Foi-se embora. E eu permaneci, primeiro em silêncio, depois em riso nervoso, durante os 5 minutos seguintes, ainda a tentar lidar com a minha taquicardia.
Quem estava lá e viu diz que foi um espetáculo digno do fenómeno pós-Harrison, ver-me ficar taquicárdica e sem palavras. "Qual é a especialidade dele?", meu querido, não sejas arrogante, eu podia estar taquicardica e sem palavras, mas vi-te olhar e a tentar avaliar o que é que ele tem que tu não tens. Essa é fácil, um sotaque do norte.
Então o que queres tu fazer, disse ele. Eu não sabia, mas queria que parasse. Não ali, não agora. Podemos voltar ao que era?, perguntei, ao nosso flirt platónico. O problema é que deixou de ser platónico, disse ele, ainda cá estás. Talvez queira, não importa, algum dos dois tem que usar a cabeça. Se não fosse, nunca tinha acontecido, argumento, não sabes, ele refuta. Claro que sei, possuo em mim todos os conhecimentos do universo, se olhares nos meus olhos estão lá, as estrelas e as dúvidas. Não faças isso, eu disse baixo quase contra a boca dele. És tão fria, disse ele hoje enquanto me desprezava com o seu olhar. É mentira, querido, sou morna e doce mas tenho medo. Sou uma rainha do gelo, pelo andar da carruagem. "Mãos frias, coração quente", mas se o meu coração é assim tão frio, como posso ter sempre as mãos geladas? Tenho medo de me apaixonar por ti, não sou quem tu pensas, disse eu, péssimos argumentos. É verdade, apesar de não significar de que não gostarias de quem sou. És tão fria, tens razão, não és o primeiro a dizê-lo, mas ao contrário do outro, tu tens o direito de me chamar isso. O que falta fazer, não sei, mas ele estava extraordinariamente perto. Àquela distância só sobra o perfume dele e eu, arrependida até ao core. Quero fazer jus ao nome e ser fria e má. Quero voltar a partir o platónico como o estraguei da primeira vez, mas desta vez, melhor.
Ando apaticamente andando pela vida. Arrastando um embotamento emocional vespertino, às vezes despertado na presença das pessoas às vezes tóxicas. Afundo com elas e bebo da sua tristeza existencial, e recalco o passado e os pensamentos do que foi e nunca vai ser. Às vezes surgem-me memórias vagas, transações de palavras, números soltos, datas, momentos e a roupa que vestia. Ocasionalmente tenho medo - mas a maior parte das vezes é só conformação e apatia. Aquele momento em que deixas de fazer perguntas e conformas-te com as piadas fáceis, cimentadas pela fermentação emocional do que já foi e agora nem destila.
Um embotamento emocional de quem vai embora, tal qual Mini que ficou aberta ao ar e morreu.